1.681 questões, 13 redações, muitos textos e muitas horas-aula

Esse texto é sobre paz.

Isabela Lobato
3 min readJan 10, 2021

No fim de 2020, apesar de não falar espanhol, ouvi bastante o cantor uruguaio Jorge Drexler e tenho pensado muito no refrão de uma das músicas, em que ele diz

"Ir y venir, seguir y guiar, dar y tener, entrar y salir de fase
Amar la trama más que al desenlace".

Esse mês fazem dois anos que estava sentada na casa da minha irmã, completamente agoniada olhando pro notebook com o SiSU aberto há 3 dias... E escolhi o curso de pedagogia na UFMG. Não me arrependo da escolha, mas alguns meses depois disso aí, percebi que pedagogia não era pra mim.

Foi um rolê descobrir o que eu queria. Quando o jornalismo surgiu, foi como se uma coisa clicasse. Conversei com muita gente sobre o assunto e a perspectiva de conseguir estudar e ser uma jornalista foi me enchendo o coração, uma coisa que nunca tive com nenhuma das outras opções cotadas.

Desde o final de 2019, então, estou nesse processo de tentar trocar de curso. Em 2020 não consegui uma vaga pela reopção interna da UFMG e foi depois disso, em meados de outubro, que eu resolvi que eu ia ter que retraçar o caminho das pedras e entrar na universidade de novo pelo Enem/SiSU.

E é intencional o fato de esse texto estar sendo escrito antes mesmo da prova. Não estou aqui pra comemorar minha aprovação, minha nota ou ao menos minha taxa de acertos. Quero celebrar minha jornada.

Amar la trama más que al desenlace.

Me orgulho dessa jornada. Montei minha estratégia de estudos, cujo foco seria fazer exercícios de matemática e praticar redações.

1.681 questões, 13 redações, 3 simulados e dois blocos de folha de fichário depois, cheguei aqui.

Não apenas isso, mas também estou com a matrícula regular na UFMG, ou seja, tenho 7 disciplinas de pedagogia. Como eu não quieto o facho, ainda peguei uma optativa de jornalismo. Adiciono muitos textos acadêmicos nessa lista de conquistas.

E tudo isso ainda trabalhando no Number One e dando aulas particulares de inglês. Nas horas vagas eu tenho feito pesquisas pra um projeto de podcast que vem aí.

Então é, foi um fim/começo de ano agitado e eu me orgulho muito. Reconheço que é um imenso privilégio poder estudar e trabalhar de casa aos 19 anos, assim como ter a base educacional praticamente sólida que tenho.

2020 foi um ano desgracento e eu não quero ficar aqui alimentando comparações e meritocracia. Quero comemorar o meu avanço em relação a mim mesma e a minha gratidão a todo mundo que me ajudou a me construir até aqui. Eu sou uma obra coletiva, fruto da atenção e dedicação da minha família, de inúmeras professoras, de amigas e amigos.

Nessa trama que estou dedicada a amar, a Bia mostrou apoio aos meus estudos me dando borrachas em formato de dinossauros e canetas coloridinhas. Outras amigas, assim como minha namorada e minha família, ouviram muita falação sobre essa rotina louca e tentaram me explicar uma matéria ou outra. Luiza opina sempre que preciso de um suporte com a faculdade. Meu papito me ajudou a estudar a matéria de eletricidade, que ele ama, e eu já poderia pedir um certificado de horas de dedicação aos fundamentos de eletrotécnica. Com a Letícia tive um milhão de trocas sem as quais eu estaria bem pior. Meus companheiros de quarentena fazem tudo do mundo pra me apoiar. O Natanael, o corretor das minhas redações, talvez seja a pessoa mais chave nesse processo. Vocês já viram alguém tomar 15, 20 páginas pra corrigir meticulosamente uma redação do ENEM? Recomendo o trabalho dele de olhos fechados.

Como a cereja do bolo, este é o primeiro texto pessoal que consigo tirar da cabeça em mais de dois meses de seca. Hoje, falta menos de uma semana para o primeiro dia de provas. E eu me sinto imensamente privilegiada de conseguir amar a trama. E confiante que fiz tudo o que podia para esse desenlace.

Ouça essa música boa pra dedéu aqui: https://youtu.be/QgZBKNdo8gs

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